No decorrer do meu trabalho tenho constatado que nós, ocidentais, vivemos como se nunca fossemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido. O facto de querermos ser eternamente jovens retira-nos da nossa própria essência como se, de alguma forma, quiséssemos fugir da morte.
Mas não podemos falar de vida sem falar de morte até porque, todas as noites morremos para renascermos ao amanhecer.
Vou transcrever um pequeno trecho que me impactou e me fez refletir:
“Não existe lugar nenhum na Terra onde a morte não nos consiga encontrar – mesmo se virarmos a cabeça em todas as direções, como numa terra insegura e suspeita… Se houvesse alguma maneira de nos protegermos contra os golpes da morte – não sou homem para recuar perante
ela… Mas é uma loucura pensar que se pode ser bem sucedido…
Os homens vão e vêm, correm e dançam, sem uma única palavra a respeito da morte. Está sempre tudo bem. Mas quando a morte chega de facto – a eles, às suas mulheres, filhos ou amigos -, apanhando-os distraídos e desprevenidos, então que tempestades de paixão os assolam, que gritos, que fúria, que desespero!..."
Montaigne in “Livro Tibetano da Vida e da Morte”
Sim, é um desespero mesmo que estejamos conscientes da nossa finitude. Como afirmei no texto anterior, ninguém poderá dizer quanto tempo é que o processo de luto durará.
Contudo, existem alguns fatores que, segundo Alain Wolfet, influenciam o processo de recuperação de luto tais como:
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A natureza do relacionamento com a pessoa que faleceu.
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Disponibilidade e capacidade do enlutado.
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Características da pessoa enlutada.
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Características da pessoa que faleceu.
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Natureza da morte.
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Histórico religioso e cultural do enlutado.
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Outras crises e stresses do enlutado.
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Diferentes expectativas para homens e mulheres sobreviventes.
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Experiência do ritual de enterro.
De forma a que este ciclo se encerre saudavelmente, há que procurar um profissional desta área.
Luto
Nestes últimos anos temos sido confrontados com eventos dolorosos de perda, morte e, mais recentemente, com a guerra e tudo o que dela advém.
Quando perdemos alguém mais significativo, o nosso mundo fica abalado. O que pensávamos que só acontecia aos outros, um dia bate-nos à porta. A dor da perda é dilacerante, há uma sensação de desamparo, de raiva, de choque. As emoções ficam à flor da pele.
Segundo Granger Westerberg, no livro “Good Grief” (Bom Luto), existem 10 emoções que costumamos enfrentar quando experimentamos o luto de alguém próximo a nós:
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Choque.
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Expressão externa da emoção.
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Sentimentos de depressão e de solidão.
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Sintomas físicos de sofrimento.
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Pânico.
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Sentimentos de culpa.
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Sentimentos de ira e de ressentimento.
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Dificuldades em voltar às atividades normais.
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Ressurgimento gradual de esperança.
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Estabelecimento de uma nova realidade.
Contudo, nem todas as pessoas enlutadas experienciam todas estas etapas. Ninguém pode afirmar quanto tempo o processo de luto durará. Se para uns pode durar semanas, para outros pode ser meses ou até anos. Para tal, é necessário procurar ajuda de forma a se conseguir encontrar paz na vida.